No
final da década de 1920, uma crise diferente das crises ocorridas anteriormente
ficou conhecida no mundo capitalista, que afetou toda a economia e assumiu um
caráter global. Para o melhor entendimento, estima-se que em 1929, havia cerca
de 10 milhões de desempregados no mundo. E com a crise, em 1932, o número de
desempregados chegou a 40 milhões.
O
período entre 1929 e 1932 ficou conhecido como “ciclo infernal” da crise nos
Estados Unidos, que era então a principal economia capitalista do planeta. Cerca
de cinco mil bancos quebraram e 100 mil indústrias paralisaram suas atividades.
O início da crise
Durante
a década de 1920 poucos contemporâneos percebiam que a economia capitalista
caminhava rapidamente para uma grande catástrofe. E mesmo as vésperas da crise,
poucos tinham noção do que viria em seguida. Em 1928, quando o presidente
norte-americano Herbert Hoover tomou posse afirmou: “Hoje, na América, estamos mais perto da vitória sobre a pobreza do que
qualquer outro país jamais esteve, em qualquer momento da história.”A
partir de outubro de 1929, quando a crise manifestou-se com toda intensidade,
provocou uma onda de suicídios, e a maioria das pessoas tentava entender o que
havia acontecido. (In:Texto “O que é recessão, Paulo Sandront)
A Primeira Guerra Mundial e a
Crise de 1929
Para
entender a relação entre a Crise Capitalista de 1929 e a Primeira Guerra
Mundial, é preciso retomar o cenário das condições econômicas do mundo. Os
Estados Unidos foram os maiores beneficiários da Guerra, em termos econômicos,
e eram eles quem supriam a Europa com produtos industrializados, armamento,
recursos financeiros e alimentos. Além de expandirem sua influência sobre
países da América Latina e Ásia.
“A década de 1920, ou, mais precisamente,
os oito anos que separam a depressão do pós-guerra e a Quebra da Bolsa de
Valores, em outubro de 1929, foi um período de prosperidade para os Estados
Unidos. A produção total da economia aumentou em mais de 50%.” (GALBRAITH, J. K. Dias de “boom” e
de desastre. In: ROBERTS, J. M. História do Século XX. São Paulo: Abril 1974.
V. 3. P. 1 330.)
A
partir de 1925, especialmente, foi verificada uma retração das exportações
norte-americanas devido à recuperação industrial da Europa Ocidental. Após da
guerra, os Estados Unidos adotaram uma política isolacionista em relação às
questões políticas dos Estados Europeus. Com isso, houve uma redução no volume
de empréstimos norte-americanos à Europa, o que também contribuiu para a
diminuição da capacidade importadora do continente.
Entre
1923 e 1929, os Estados Unidos viveram em um clima de euforia. As inovações
tecnológicas na agricultura garantiram o aumento da produtividade que se
traduziu em safras recordes. Porém, havia uma tendência de queda nos preços dos
produtos agrícolas constante, uma vez que, a partir de 1924-25, as economias
européias, que já superavam os efeitos da guerra, tendiam a comprar menos
produtos da agricultura norte-americana. Assim, a superprodução e queda de
preços afetaram os fazendeiros norte-americanos, que imaginavam ser uma crise
passageira.
O
setor industrial viveu uma expansão
sem precedentes, visível no setor automobilístico, na indústria de construção
civil, entre outros setores. Os chamados “sonhos de consumo” (automóveis, geladeiras,
rádios e aspiradores de pó) inundaram os lares de muitos norte-americanos. O
vertiginoso ritmo da produção e o crescente aumento da produção permitiram às
indústrias diminuírem cada vez mais seus custos de produção, levando os
produtos cada vez mais ao alcance de mais consumidores. Houve também uma expansão
do crediário, que forneceu condições para uma ampliação do ritmo de produção.
Entre 1920 e 1929, as vendas a prazo multiplicaram-se por cinco, atingindo uma
“fantástica cifra”, para os padrões da época, de 6 bilhões de dólares.
Costuma-se afirmar que os ricos nunca foram tão ricos nos Estados Unidos quanto
durante a década de 1920.
Porém
o aumento da produtividade e a expansão da produção também contribuíram para
agravar o quadro de desemprego, camuflado pela mística da “prosperidade
permanente”. Embora a produção por trabalhador tivesse aumentado
constantemente, os salários mantiveram-se estáveis, bem como os preços, e os
lucros das empresas cresciam rapidamente. De maneira geral, o consumo foi incentivado
pela ampla oferta de créditos. Muitos consumidores passaram a ter acesso a bens
sem, muitas vezes, ter a certeza das condições reais futuras que lhes
possibilitassem quitar as dívidas contraídas. Os norte-americanos acreditavam
que tudo estava bem com a economia, devido a facilidade das prestações
(crediário). Tanto que o país começou a ser considerado um “modelo” de
desenvolvimento e prosperidade.
Os
capitais excedentes pela “euforia” da década de 1920 foram canalizados também
para os países europeus na forma de empréstimos. Com tais empréstimos, a Europa
conseguiu reorganizar boa parte de sua economia, e algumas indústrias até
passaram a competir com a produção norte-americana. Enquanto os
norte-americanos continuaram empolgados com a grande prosperidade dos anos
1920, em 1927 a
Europa ultrapassou o volume de sua produção de antes da guerra.
Em
tal ritmo global, a economia norte-americana teve queda em suas exportações. No
final da década de 1920, os empréstimos externos norte-americanos para os países
europeus foram retirados, o que reduziu mais ainda as exportações. A redução da
produção aumentou o desemprego, o que afetou o poder de compra dos
trabalhadores, diminuindo ainda mais o consumo e provocou mais desemprego.
Durante
o período de prosperidade, as grandes companhias norte-americanas tiveram suas
ações na Bolsa de Valores de Nova York valorizadas constantemente, os valores
subiam na mesma medida em que crescia a confiança no sistema. Porém, por ser
uma valorização artificial, especulativa poderia ruir ao menor sinal de perda
de credibilidade.
A
crise econômica mundial explodiu com o colapso da Bolsa de Valores de Nova
York, em 1929. Uma especulação desenfreada havia levado valores de títulos a
alturas fantásticas, e a venda desenfreada dos mesmos, o que ocasionou um
colapso no mercado norte-americano com consequências mundiais. Em 1932 já
haviam falido 5000 bancos americanos. Em toda parte a produção diminuiu, o
comércio retraiu-se e o desemprego aumentou. Em 1931 faliu o principal banco vienense,
o Kredit-Anstalt, precipitando a
crise financeira na Europa.
O processo de recuperação
Depois
de um momento de perplexidade, os países começaram a tomar medidas visando
dominar a crise, porém a mesma era muito mais ampla do que se imaginou e as primeiras
medidas de manutenção do liberalismo econômico não tiveram um efeito desejado.
Para muitos políticos e economistas, a solução para a crise era uma maior
intervenção do Estado na economia. Uma política intervencionista foi proposta
pelo economista inglês John Maynard Keynes, que assessorou o presidente
Franklin Delano Roosevelt na aplicação de um programa de recuperação da
economia conhecida como New Deal.
O
New Deal foi caracterizado pela intervenção do Estado da economia desvinculando
medidas liberais de autorregulação do mercado. O Estado criou medidas protecionistas,
incentivou as exportações e aumentou de gastos públicos como forma de estimular
a economia e acabar com o desemprego.
Principais
medidas tomadas:
· Incentivo à construção de obras
públicas, abrindo novas oportunidades de emprego;
· Criação de um seguro-desemprego;
· Criação de um fundo que garantisse
os depósitos populares nos bancos;
· Abolição definitiva do trabalho
infantil;
· Diminuição da jornada de trabalho
para 8 horas;
· Aumento dos salários dos
operários;
· Fixação dos preços dos produtos
básicos;
· Promoção de reformas na legislação
social, ampliando os direitos dos sindicatos;
· Concessão de empréstimos aos
fazendeiros arruinados.
A
política keynesiana, adotada por vários outros países, foi a base para a
instalação do Welfare State (Estado
de Bem-Estar Social). O Estado de Bem-Estar Social marcou a ação das políticas
sociais, regularização dos direitos trabalhistas como forma de manter
crescimento capitalista. Neste modelo de governo o Estado interventor tem como
objetivo garantir o equilíbrio econômico através da regulação e da viabilização
de políticas públicas através de uma carga alta de tributos.
Este
modelo de Estado se estendeu até a década de 1970, quando as crises do petróleo
anunciaram uma nova crise capitalista, que como solução vai buscar reduzir os
encargos do Estado através da retomada da “liberdade do mercado” somada a ideia
de “Estado mínimo”, o que determinou à implementação do Estado Neoliberal, e
junto com ele o sucateamento dos bens público, a perda dos direitos sociais, a
precarização do trabalho, entre outras consequências nefastas a sociedade e
benéficas a manutenção do sistema capitalista.
Texto escrito por Mariana Monnerat.
APROFUNDANDO OS ESTUDOS: QUESTÕES
DE VESTIBULAR.
1) (PUC-RS 2010) Inicialmente favorecida pelas condições internacionais do pós-Primeira
Guerra, a economia dos Estados Unidos conheceu um período de forte expansão e
euforia nos anos 1920. Todavia, ao final dessa década, o país seria um dos
focos da crise mundial de 1929 e da Grande Depressão que a seguiu. Um dos
motivos dessa violenta reversão de expectativas foi:
a) a falência das
principais medidas estabilizadoras do New Deal.
b) a política antitruste
determinada pela Sociedade das Nações.
c) a perda de mercados
devido à descolonização afro-asiática.
d) a superprodução no
setor primário dos Estados Unidos.
e) o crescimento da dívida
norte-americana em relação às principais potências europeias.
2) (ENEM cancelado 2009) A depressão econômica gerada pela Crise de 1929
teve no presidente americano Franklin Roosevelt (1933 -- 1945) um de seus
vencedores. New Deal foi o nome dado à série de projetos federais implantados
nos Estados Unidos para recuperar o país, a partir da intensificação da prática
da intervenção e do planejamento estatal da economia. Juntamente com outros
programas de ajuda social, o New Deal ajudou a minimizar os efeitos da
depressão a partir de 1933. Esses projetos federais geraram milhões de empregos
para os necessitados, embora parte da força de trabalho norte-americana
continuasse desempregada em 1940.
A entrada do país na Segunda Guerra Mundial, no entanto,
provocou a queda das taxas de desemprego, e fez crescer radicalmente a produção
industrial. No final da guerra, o desemprego tinha sido drasticamente reduzido.(
EDSFORD, R. America’s response to the Great Depression.
Blackwell Publishers,
2000. tradução adaptada).
A partir do texto,
conclui-se que:
a) o fundamento da
política de recuperação do país foi a ingerência do Estado, em ampla escala, na
economia.
b) a crise de 1929 foi
solucionada por Roosevelt, que criou medidas econômicas para diminuir a
produção e o consumo.
c) os programas de ajuda
social implantados na administração de Roosevelt foram ineficazes no combate à
crise econômica.
d) o desenvolvimento da
indústria bélica incentivou o intervencionismo de Roosevelt e gerou uma corrida
armamentista.
e) a intervenção de
Roosevelt coincidiu com o início da Segunda Guerra Mundial e foi bem sucedida,
apoiando- se em suas necessidades.
GABARITO:
01) d
02) a.